Essa semana ia dar ruim e já estava escrito, né? O mês de Julho já vem com os aniversários de morte dos meus pais, nos dias 12 e 25. Isso mexe comigo e com a minha energia.
Sobre os preparativos para a bariátrica, aconteceu o problema com o laboratório: das 23 medições que deveriam ser feitas com o meu sangue, o sódio ficou esquecido.
Depois de enrolar um bocado, alegando que a dosagem de sódio tinha apurado um “resultado muito fora da curva” – e isso eu explico com calma num outro momento – o laboratório me telefonou para pedir que eu voltasse à unidade para colher sangue outra vez, quando então seria feita a “nova” dosagem de sódio.
Por conta disso, eu tive que remarcar todos os médicos pré-bariátricos para daqui a cerca de duas semanas, para só então, depois de visitar todos eles, marcar o cirurgião que efetivamente vai me operar.
Assim, a distância entre o início do processo de preparação para a bariátrica e a bariátrica em si aumentou, ficou mais longo. E isso também mexeu comigo.
Anteontem uma colega de trabalho teve uma atitude bonitinha e positiva que eu, com meu entendimento torto que está instalado nos últimos dias, recebi com tristeza.
Me oferecei para ajudar um outro colega, bem mais velho que eu, a carregar para a mala do carro algumas sacolas para doação (alimentos não perecíveis para pessoas em situação de insegurança alimentar) e absorventes higiênicos.
Imediatamente, aquela primeira colega se ofereceu para fazer isso no meu lugar, antes mesmo que eu começasse, dizendo: “Deixa que eu faço, eu sou muito mais jovem” .
Ela falou de boa e eu tenho certeza absoluta disso, pois conheço a pessoa.
Fui eu que não escutei e não recebi de boa.
Logo me passou pela cabeça que provavelmente ela e várias pessoas estão me enxergando como uma senhorona mesmo, velha e sem pique. Me fez muito mal.
Anteontem, na hora do almoço, dentro de uma conversa que estava divertida, um outro colega – e logo quem… justamente ele … – foi dar um exemplo jocoso e se referiu a mim como “jovem senhora”.
Eu sou uma jovem senhora? Sim, eu sou uma jovem senhora.
Eu então saí da conversa e me voltei completamente para os meus pensamentos, para as minhas questões.
Qual a relação que a minha idade tem com o interesse dele em mim, que diga-se de passagem evaporou por completo? Como ele me enxerga, afinal?
Para ele, uma “jovem senhora” é uma mulher também, ou já é considerada móveis e utensílios?
E o mundo, o que pensa sobre isso?
Fiquei triste outra vez, muito mexida. Quando eu comento que não tenho problema com envelhecer, isso não é mentira! Mas quando eu penso (ou imagino) que estou ficando fora do páreo, da disputa, da faixa de apreciação por causa disso, o desconforto é bem grande.
É o meu peso o que pesa mais? É o fato de ter 51 anos? São os cabelos cada vez mais grisalhos, dos quais eu estou gostando tanto?
Eu quero ser percebida como uma mulher. Por homens e por mulheres. Quero ser vista como alguém a ser considerado na conta. Eu não me acho um bagulho e enxergo com clareza valores positivos em mim.
E obviamente eu não deveria estar à mercê do ponto de vista alheio, eu sei com clareza. Mas essa coisa de mulher de meia-idade me balançou nos últimos dias e eu não sei o quanto isso vai se alongar para o futuro.
Sabiam que um estudo de pesquisadores da Universidade de Kent, na Grã-Bretanha, concluiu que a meia-idade começa aos 35 anos e finda aos 58 anos, quando então começaria a terceira idade?
Dentre os indivíduos pesquisados, entretanto, a percepção da idade de entrada e de saída da meia-idade varia. E varia de acordo com a maneiracomo esses indivíduos enxergam a si mesmos e suas próprias vidas.
E… de verdade… se eu mesma, quando estou completamente racional, acho super vantajosa a maturidade, essa bendita meia-idade… por qual razão isso me pegou agora?
Queria tanto saber como ele me enxerga… mas a gente nunca teve e nunca vai ter essa conversa. Eu nunca vou saber o que ele enxerga quando olha para mim.
Não é possível que ele só veja uma jovem senhora. Não até eu saber o que isso significa para ele.